Otimização dos novos regimes terapêuticos e prevençã o da doença

Redação News Farma
22/01/13

Dr.ª Rosário Serrão"Desde que a infeção VIH/SIDA evoluiu para uma doença crónica, o alvo da atenção clínica passou a ser a otimização dos novos regimes terapêuticos, com ênfase na simplificação e numa menor toxicidade e melhor tolerância."


Esta é uma afirmação da Dr.ª Rosário Serrão, responsável pelo Hospital de Dia/Clínica de Ambulatório VIH do Serviço de Infecciologia do Hospital de São João, no Porto, que referiu ainda que o acompanhamento destes doentes tem, atualmente, diversas vertentes, que impõem ao clínico novas responsabilidades.

"A promoção e o controlo da adesão ao tratamento, a monitorização e correção dos efeitos adversos à terapêutica, o controlo metabólico, a par do virológico, são exigências fundamentais em doentes cuja idade média tem vindo a aumentar", observa.

Dr. Fernando MaltezPor outro lado, o Dr. Fernando Maltez, diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital de Curry Cabral, em Lisboa, indica que, tendo em conta o elevado grau de eficácia já atingido com os antirretrovíricos disponíveis, as atuais necessidades passam por "encontrar fármacos cómodos de administrar e possíveis de coformular em comprimidos únicos".

Na sua opinião, o grande desafio, agora, é apostar na prevenção. "Tendo em conta a eficácia da medicação, devemos investir no sentido de tentar controlar o número de novos casos de infeção", salienta, mencionando, também, que há sempre melhorias a efetuar no que confere ao apoio clínico multidisciplinar aos doentes e, ainda, no acesso aos cuidados de saúde e aos apoios sociais.

Dr.ª Patrícia PachecoPara a Dr.ª Patrícia Pacheco, diretora do Serviço de Infecciologia do Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, na Amadora, um dos grandes desafios para as estruturas de saúde é a capacidade de conseguir disponibilizar, de forma adequada, a abrangência de cuidados de que os doentes necessitam.

"Em Portugal, o acompanhamento destas pessoas mantém-se quase que exclusivamente em consultas hospitalares de especialidade, porém, numa população crescente de utentes com patologias crónicas e de idade crescente, teremos de estruturar uma articulação efetiva com os cuidados de saúde primários, numa partilha de competências benéfica para todos", considera.

O diagnóstico precoce, a capacidade de retenção dos doentes no sistema de saúde, uma adesão adequada ao tratamento e a realização de rastreios à população e de campanhas de educação para a saúde são, de forma geral, algumas das mais importantes medidas, apontadas por estes três médicos, a colocar em prática com os objetivos de melhorar a qualidade de vida das pessoas com VIH/SIDA e de controlar esta epidemia.

A prescrição médica e a sustentabilidade do SNS

Ao serem questionados sobre de que forma pode o clínico contribuir para a garantia do acesso universal à terapêutica, mantendo a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Rosário Serrão salienta que a preocupação fundamental dos médicos é a saúde dos doentes, estando estes sempre em primeiro lugar. "O clínico tem de conhecer os esquemas terapêuticos recomendados para decidir, perante um doente concreto, qual é o esquema que melhor se adapta a ele", esclarece.

Fernando Maltez menciona que é da responsabilidade do médico garantir que o doente está a ser tratado com a melhor medicação possível, com base nos conhecimentos atuais. "O clínico tem de tratar o doente com o melhor medicamento que tem à disposição. No entanto, entre opções de eficácia similar, não há razão para não optar pela mais económica", nota, acrescentando que, para garantirmos que o tratamento antirretroviral vai estar, no futuro, disponível para todos, é fundamental investir na prevenção, pois, só assim se vai reduzir o número de casos.

Patrícia Pacheco é da opinião de que, hoje em dia, "o médico tem de pensar no doente, mas também no custo da sua prescrição" e, perante dois fármacos igualmente eficazes, opta muitas vezes pelo menos oneroso.

"Embora esta consciencialização dos custos seja importante, pode virtualmente condicionar a prescrição médica, a qual deveria permanecer isenta", nota. E conclui: "Caminharmos para normas gerais de prescrição institucionais e/ou nacionais talvez seja uma das opções a explorar, porque retira dos médicos, individualmente, a pressão adicional dos custos e remete os aspetos financeiros, em exclusivo, aos órgãos de gestão."

O eterno preconceito

"O estigma nunca irá desaparecer, uma vez que está associado ao preconceito e à não aceitação do outro, que é diferente. Sendo esta uma doença ligada a comportamentos socialmente não normativos, e sabendo-se que a mesma pode conduzir à morte e que é transmissível através de relações sexuais (criação de vida), é difícil que este preconceito desapareça rapidamente, afirma Amílcar Soares, presidente da Associação Positivo e portador do vírus há mais de 25 anos.

Segundo menciona, os problemas atualmente enfrentados pelas pessoas infetadas são exatamente os mesmos que se aplicam à população em geral, agravados pelo facto de serem portadores de VIH/SIDA, que influencia, por exemplo, a escolha de candidatos em resposta a um emprego.

Além disso, existe uma enorme dificuldade na obtenção dos medicamentos, tendo os doentes de se deslocar ao hospital mais de uma vez por mês. "Esta situação é grave nos casos em que a pessoa tem de justificar a sua repetida ausência junto da entidade patronal", indica.

Amílcar SoaresPara Amílcar Soares, a "ideia falaciosa" de que esta doença já não é mortal levou a população a acreditar que a mesma não é perigosa, uma vez que existe já muita medicação indicada. "Se é verdade para alguns, não o é para outros, tendo em conta que, em Portugal, continuam a morrer pessoas devido à SIDA ou a outras doenças oportunistas correlacionadas."

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